sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dizem que é pecado...

Teria sido mais um domingo comum, entre tantos. Ele acordou meio tarde como de costume, pois durante a semana era obrigado a acordar cedo para ir ao trabalho e dar conta de seu corre-corre diário devido aos diversos compromissos que sempre assumiu.
Após o almoço em família, que era costume em sua casa nestas datas comemorativas (já nem lembrará qual data se comemorava, pois era sempre a mesma coisa), ele resolve ficar sozinho.
Ele liga a tevê, e adivinha? Nenhuma novidade! Os mesmos programas com as mesmas apelações. Ele lembra que havia locado um filme e resolvi ligar para ela e pedir sua companhia. Os dois assistem ao filme entre as tantas interrupções da família. A tarde vai se esvaindo e resolvem marcar para saírem juntos. Novidade? Nenhuma. Talvez os dois imaginassem como terminaria a noite, mas nem comentário fora feito...
Chega a hora marcada e pelo menos uma novidades: a família dele resolvi ir junto. Todos vão a uma lanchonete e depois a um barzinho na cidade, as horas passam e todos vão para suas casas. Menos ela. Ele a convenceu que seria bom ir para a sua casa e ficassem a sós. Seria mais um dos tantos momentos que eles poderiam desfrutar juntinhos. Conversaram pouco. Os seus corpos é que necessitavam conversar. Começam a vivenciar algo semelhante a ao mesmo tempo novo e  por mais que já tivessem visto aquela cena, cada gesto, toco ou olhar era sinônimo de palpitações cada vez mais intensas. As roupas começaram a ir ao chão. Beijos... Toques... Olhares... Palavras? Pra quê? Eles estavam se entendendo perfeitamente. Seus corpos pareciam terem sido feitos um para o outro e eles simplesmente se amavam. O tempo passando e eles nem ai pra ele...O que eles planejaram para o final da noite (por mais que não tenham comentado uma palavra sobre o assunto) se concretizará, mas naquela noite, aconteceu algo mais intenso. Palavras? Agora era necessário. Ela lembrou que tinha que ir pra sua casa e ele a levou. No caminho, ela o agarrava para para tentar diminuir o vento frio que a cobria devido estar garupa de uma moto que cortava o silêncio e o vento gelado da madrugada. Na despedida, somente um boa noite e um sorriso lembrando que ela verdadeiramente tinha sido boa.
Na manhã seguinte, rotina: trabalho, as mesmas tarefas, as mesmas pessoas... Só que naquela manhã ele via as coisas de uma maneira diferente, pois lembrava do que tinha acontecido durante a madrugada, não não podia falar com ninguém e externar o que viveu... Somente os dois sabiam, somente os dois tinham vivido e na lembrança deles, aquela madrugada se eternizaria.
Agora, ele tinha uma certeza, apesar de tudo que ouvirá durante sua educação religiosa que receberá de sua família: estava completamente livre de qualquer forma de pecado. Aquilo que viverá, jamais poderia ser pecado...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Belo Monte - Poesia

Belo monte de mentiras
Monte de destruição
Belo castelo de areia
E devastação

Monte-se em belos boatos
E os fatos amontoarão
Por debaixo do mato,
Cada vez mais cabisbaixo
No monte, que não é morro, nem mato

Mate o mato belo monte
Deixe o morro desabar
Erre de novo e povo
Matará ao se matar

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Minha boneca está viva!?

Menina com menino (Portinari)
Já faz algum tempo, mas existem coisas que ficam tão carimbadas em nossa mente e que de vez em quanto, quando damos uma vasculhada para tentar organizar algumas idéias e buscar argumentos para explicar acontecimentos do dia-a-dia, elas aparecem vivas e fazem com que cheguemos a conclusão de que nada sabemos da realidade que nos cerca.
Foi no período do meu estágio supervisionado quando precisei ir a casa de um professor para que ele fizesse a observação na ficha avaliativa. Estávamos no pátio da frente de sua casa quando comecei a observar as crianças brincando na rua pelo período da manhã em um fim de semana (ainda moro numa cidade pequena e que bom que isso ainda existe), comecei a recordar meus tempos de “moleque de rua” quando brincava de bola, empinava pipa, corre-corre, amarelinha, elástico (isso mesmo, na minha infância não tínhamos esse lance de separar as brincadeiras por gênero) etc. Quando uma cena em meio aquele momento de aparente despreocupação de infância me chamou a atenção: uma das crianças, uma menina que aparentava ter por volta de cinco anos de idade sai de uma das casas carregando em seu colo outra com menos de um ano de idade e aproximando-se do grupo que já estava no local tentou se integrar às brincadeiras.
Esta cena já me chamou bastante atenção, porque em comparação a realidade em que vivo, onde tenho cinco sobrinhos com idades entre três e dez anos, jamais algum deles ficaria carregando o outro sem a supervisão de algum adulto. Mas, dando sequência a cena que me pareciam saídas de um filme, as outras crianças, especialmente o grupo de meninas, se solidarizando com aquela que tinha a responsabilidade com o bebê de colo, juntaram-se e começaram a compartilhar alguns dos poucos brinquedos que possuíam. Eram algumas bonecas e outras miniaturas de utensílios de cozinha. A menina de cinco anos brincava com uma boneca “Barbie” em uma de suas mãos e na outra, cuidava de uma “boneca de verdade”.
Realidade crua choca!? Pelo menos neste caso me “chocou”! Diria a nossa psicologia que está criança esta tendo sua infância roubada e, ao meu ver, está mesmo! Só que isto é uma realidade dentro da cultura dos povos da Amazônia, onde muitas pessoas nos contariam que passaram por situações parecidas e estão vivas e mais, com um bom caráter. Como argumentar com estas pessoas que isto não fará bem a estas crianças? Às vezes, apesar das várias leituras que tenho sobre a construção do ser social e das conseqüências que algumas circunstâncias podem ocasionar na formação, me questiono se determinadas situações, postas em xeque pela psicologia, não fariam realmente bem, especialmente quando tenho que argumentar com pessoas de mais idade que aprenderam através da experiência de suas vidas e não nos livros. É muitos difícil admitir isto, mas sinceramente, me questiono sim.
Um coisa é certa, não posso me distanciar do cotidiano das pessoas que pretendo de alguma forma colaborar com a melhoria de suas vidas, seja como educador ou militante de movimento social. Não posso levar receitas prontas de mudança sem antes compreender suas realidades, pois provavelmente me depararei diversas vezes com “bonecas vivas”.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

MANIFESTO AO ALVORECER

        e anunciar a primavera!

Devagar mulheres e homens anoitecem.
Nas ruas o imperativo
É tudo. Violência.
Exceção permanente. 
Sabemos.
Há desesperança aos montes
Aos morros e celas e casas.
Difunde-se o argumento único
E o discurso é o do silêncio.
Sabemos.
A miséria e o vendaval desta madrugada
São manchetes exultantes das capas de revista.
Muitos dos que caminhavam na contracorrente
Foram derrubados.
Também sabemos.
Entretanto, ainda que os versos não sejam livres,
Nem previsto o verdadeiro carnaval,
Não foi sempre assim
E não será sempre assim.
Disso tudo sabemos.
Pois ouçam.
Longe, ao fundo.
Os insultos dos insistentes.
Despertos.
De prontidão.
Serão maiores.
Bandeiras desfraldadas
Milhares
Milhares
Músicas
Voz
E uma marcha em execução
Romper o dia e anunciar a primavera!