sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Limpeza Social - Criminalização da Pobreza

 No último final de semana, quando acabava de retornar do 13º Coneb da UNE ocorrido na cidade do Rio de Janeiro nos dias 15 a 17 de janeiro de 2011 (fato que seria irrelevante, mas explicarei o porquê de citá-lo em seguida) e ainda estava na cidade de Belém, vivenciei uma situação humilhante para qualquer ser humano, mas que se pararmos para refletir um pouco, é parte do dia-a-dia de muitos jovens e adolescentes residentes em bairros periféricos de muitas cidades Brasil à fora, agravando-se ainda mais se nestes casos estes forem negro.
Atualemente, ainda resido no município de Breves, localizado na Ilha de Marajó – interior do Pará, onde recentemente conclui o curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará – Campus do Marajó e, a partir deste ano irei cursar uma segunda graduação (Ciências Sociais), agora na UFPA – Belém.
Por ainda não residir em Belém, pouco sei me locomover sem precisar da ajuda de terceiros, e naquele momento, antes de retornar ao meu município, precisa visitar minha irmã mais nova, que mora com seu pai no bairro do Jurunas ou Guamá (não sei ao certo) e, por não saber onde era a casa, fui até a casa de sua avó, onde encontrei meu outro irmão e o mesmo me levou até o encontro dela numa bicicleta. Após a visita, pedi que ele me levasse até o porto de onde sairia o barco (um dos únicos meios de transporte para Breves), pois, não ficava distante dali e já era por volta de 17h e o mesmo sairia às 18h.
Íamos tranquilamente conversando, ele pedalando e eu na garupa da bicicleta quando fomos abordados por dois policiais com armas nas mãos ordenando para que nos saíssemos da bicicleta e colocássemos as mãos na cabeça. Até aquele momento aquela cena parecia irreal pra mim, até sorria pela situação, quando um dos policiais que apontava a arma na minha cabeça perguntou por que motivos eu estava rindo e com um sinal com a arma ordenou que eu abaixasse a cabeça. O primeiro a ser “revistado” foi o meu irmão, que ainda perguntou por que motivos aquilo estava acontecendo e falou que nenhum de nos éramos “marginais”. A resposta veio com um tapa na cabeça e mais uma ordem para ficar calado. Dando prosseguimento à revista policial, ordenou novamente que o meu irmão colocasse as mãos na cabeça e com um chute nas pernas mandou que ele as afastasse enquanto ele o “revistava” e, antes de vir em minha direção disse que se nos estávamos achando aquilo ruim era só procurarmos os nossos direitos. Com um chute em minha perna mandou que eu também afastasse mais elas para ele poder fazer o seu “trabalho” e de forma tão “sutil” apertou tanto minhas nádegas quanto o meu saco escrotal (pelo que me lembro, pelo menos duas vezes cada um). Ao ver que eu estava com um documento de identidade num dos bolsos, pediu que o meu irmão apresentasse o dele e o mesmo informou que tinha deixado em casa, quando a resposta do policial foi de dizer que ele queria questionar algo sem sequer estar portando algum documento. Em seguida, quando puderam constatar que estávamos “limpos”, simplesmente mandou que nos rasgássemos [gíria] dali.
Lembro que o meu irmão trajava uma bermuda e um boné, estava sem camisa e eu estava com um short, camiseta e um boné, o que talvez poderia justificar a conduta dos policiais, pois, afinal de contas, quem não suspeitaria ou ficaria no mínimo desconfiado de dois negros circulando de bicicleta? Provavelmente pensariam [senso comum] que se tratava de mais dois ladrões a procura de uma vitima para fazer um assalto...
Naquele dia tinha saído o resultado do vestibular da UFPA e bem próximos daquela situação ouvíamos as marchinhas e muitas pessoas transitavam pelo local e como estas não nos conhecíamos, provavelmente viram aquela situação como mais uma boa ação da PM, que está presente nestes locais para dar tranqüilidade a vida dos moradores e moradoras, fazendo uma varredura de tudo o que não presta e deixando apenas as “pessoas de bem”.
No inicio deste relado eu citei a minha participação num evento e agora explicarei o porquê de tê-lo feito. Foi graças ao fato de eu ter ido participar deste que pude ver uma palestra do Deputado Estadual Marcelo Freixo - PSOL/RJ (que inspirou a criação de um dos protagonistas do filme Tropa de Elite 2 – Deputado Fraga), onde o mesmo falou sobre Direitos Humanos e Criminalizaçao da Pobreza, tema que ainda é pouco debatido em nossa sociedade, pois acabamos tendo uma visão generalista e simplista destas situações: todo negro e pobre é marginal, ladrão, viciado e bandido e deve simplesmente ser banido do conviveu social.
Foi conveniente iniciar uma discussão de criminalização da pobreza e em seguida passar por uma situação que provavelmente devido a combinação dos fatores de eu ser negro e pobre acabarem me levando a vivenciar aquilo antes descrito e que estava apenas no campo das idéias, o que acaba reforçando o  que foi posto na palestra do Deputado Marcelo Freixo, onde foi ressaltado que as políticas de segurança pública dos governos neoliberais tem se pautado exclusivamente na eliminação dos “problemas” que os mesmos foram os principais culpados para sua geração, pois às camadas populares restam apenas migalhas em todos os tipos de serviços públicos.
Outra questão que me chamou a atenção nesta situação foi o fato de um dos policiais dizer que se nos achássemos “aquilo” ruim era só irmos procurar nossos direitos. Isto não ocorre por um acaso, uma vez que a maioria dos jovens de bairros periféricos de nosso país não possuem escolaridade suficiente para ir adiante com uma denuncia, reivindicando qualidade e respeito dos agentes públicos, ou mesmo, por temer represálias futuras, já que a lógica usada nestes casos é que o trabalho dos policiais visa garantir a paz das comunidades, tendo estes, absoluta autoridade para promovê-la da maneira que julgarem correta.
Infelizmente, esta lógica de “limpeza social” está cada dia se consolidando no senso comum de uma sociedade que privilegia a competição, deixando de fora milhares de seres humanos que acabam sendo esquecidos e abandonados pelas políticas públicas, em especial, as políticas educacionais, pois enquanto pedagogo não poderia deixar de chamar a atenção para a situação lastimável em que se encontra a educação, principalmente para as camadas populares residentes nas metrópoles. Sabemos que os recursos destinados a está política estão muito aquém daquilo que realmente necessitamos, mas ainda existe o agravante da lógica neoliberal, que acaba aplicando recursos nas instituições com melhores índices educacionais (com raras exceções), construindo dessa maneira realidades distintas: educação X educação para os carentes, ou melhor, criando uma educação carente – carente de recursos pedagógicos, de estrutura física adequada e principalmente, carente de trabalhadores em educação com formação adequada para fazer uma intervenção social dentro das distintas realidades existente nos nossos diversos BrasiS.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Por que MENINO MALUVIDO?

"'MENINO MALUVIDO',
já não te disse pra ti não fazer isto!?


Esta frase que eu sempre ouvia da minha avó todas as vezes que eu fazei qualquer coisa a desagradasse foi escolhida para ser o título deste blog, que buscará problematizar diversas questões sociais, tentando deste modo ser sempre este MENINO MALUVIDO e inquieto que não fica satisfeito com aquilo que lhe é imposto por uma sociedade que privilegia a competição e o individualismo.
E como Menino Maluvido que se prese também faz uma bagunça e gosta de traquinagem, divirta-se com as loucuras que sairem por aqui...